Ubatuba, 18 de novembro de 2008

Quando eu tinha vinte e dois anos (na foto) eu pensei ser imortal. Já tinha sobrevivido as dores do abandono dos pais, ataques de pedófilos, violência doméstica, pobreza, desnutrição, discriminação, a igreja batista... Sobrevivi também à vida farta na casa da madrasta ciumenta, ao pai que depois de dez anos de abandono resolveu me acolher, me mandar pro Mackenzie e , dessa maneira, se livrar da culpa...não funcionou. Sobrevi à Higienópolis (bairro nobre de São Paulo).

Aos vinte e dois já tinha sobrevivo à rua, à cocaína, anfetamina, ao ácido lisérgico (LSD), maconha, e à overdose quase mortal de substancias injetáveis. Enfrentava com coragem a competição profissional o meio publicitário e, sem medo de nada, eu cantava e acariciava minha filha Lyra de um ano; era mulher de um Pedro baixista que me humilhou até que eu passasse por cima dele como um trator, como em tudo nessa vida. Eu tinha um Deus distante e próximo, me guardando o tempo todo da minha total falta de referência e juízo. Só uma coisa eu tinha e não perdi, mania de justiça e honestidade. Me juntei aos melhores sempre. Detestava e detesto o gueto, a sujeira e a feiura da vida. Procurei a arte e por ela, sobrevivi

Hoje, estou triste, já não sou imortal nem tão corajosa e enfrento com muita dificuldade as limitações dessa vida. Tento me enganar como posso e nutrir uma esperança cristã, mas sinto dores por todo o corpo. A fibromialgia, artrose e osteoporose me consomem e a inevitável morte me acena com um descaramento insuportável. Não tenho medo de morrer, mas apodrecer em vida é um castigo que ninguém merece. Discuto com Deus essa coisa de morrer. De alguma maneira sei que sou imortal, afinal creio na ressurreição, mas isso lááááa no mundo das ideias, da imaginação, porque não consigo imaginar eternidade, sou humana demais pra isso. Invejo os "espirituais".

Enfim, em dias assim elevo meus olhos aos céus e penso: esse dia vai passar, essa chuva vai passar, essa dor vai passar nem que eu morra para isso. Deus está no controle e que me perdoe por tanta reclamação.

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